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“Temos que enfrentar um sistema global para combater a privatização da saúde”, alerta Julien Terrié

Por Jacqueline Silva
O Francês Julien Terrié, técnico em radiologia, funcionário público do hospital de Talousse e sindicalista da Confederação Geral de Trabalho da França, conversou com nossa equipe e falou sobre o sistema de saúde em seu país

Terrié é experiente em lutas a favor do sistema público de saúde na Europa e visitou o Brasil para participar do III Seminário da Frente Contra a Privatização da Saúde, evento que ocorreu em Alagoas nos dias 7, 8 e 9 de junho de 2012.

INOVE: Quais as diferenças da saúde no Brasil e na França?
Julien Terrié: O sistema na França tem muito mais recursos, mas no Brasil o sistema de saúde privado já está maior do que na França.
Com relação aos movimentos sociais, nós ainda não temos nenhum processo de participação na decisão, só passeatas, manifestações, greve, só isso. No Brasil existem as reuniões de município, fóruns, conselhos. Na França só temos negociações com sindicatos que governam.

 

INOVE: Como acontece a privatização da Saúde na França?
Julien Terrié: Estão reorganizando todo o território da saúde na França, fechando alguns hospitais que são do campo alegando que são perigosos e que têm uma dívida importante. Ao fechar eles deixam o mercado de saúde livre para o setor privado.
O sistema privado entra diretamente nos Hospitais Universitários, fazem parceria com serviços caros e complexos e entram na gestão total se transformando no que chamamos de Hospital Empresa, quer dizer que o hospital é público, mas não funciona mais como público. Funciona como um mercado, e cria um sistema de “tarifação e financiamento” que está ligado aos procedimentos (actos de saúde) e não mais a um orçamento ou as necessidades de saúde.

INOVE: Como os movimentos sociais se organizam na França?
Julien Terrié: Nos organizamos em comitês de defesa de hospitais públicos e sempre nos juntamos a outras lutas como ação social, por exemplo, que é um instrumento forte na França e possui uma grande rede de apoio. Também nos unimos a pessoas do povo que se mobilizam dentro destes comitês, principalmente no campo, porque eles sabem que para um atendimento médico tem que andar duas a três horas de ambulância.
Em mais de 50% das vezes conseguimos resistir ao fechamento dos hospitais. Conseguimos barrar o fechamento de 30 hospitais e maternidades, e com lutas muito criativas. Tem uma por exemplo que fizemos uma passeata de carro, e fomos passear a pé. Não precisou de muita gente. A cidade ficou um dia inteiro totalmente bloqueada e a policia nem sabia de onde vinha o congestionamento.

INOVE: Você acredita que as lutas estão avançando na França e que as pessoas estão se mobilizando?
Julien Terrié: Está avançado em alguns lugares e nestes lugares tivemos conquistas, mas na verdade ainda não é suficiente para inverter o processo da reforma. O problema é que mudamos de governo, e esta nova gestão apresenta propostas interessantes, mas que não vão modificar o sistema. Por isso, estamos tentando continuar com estas mobilizações dentro de um governo diferente que não é de esquerda.
Escrevemos um Regis Europeu e em uma conferência do Fórum mundial de saúde, juntamos este documento com a análise de documentos brasileiros e análise dos militantes do norte da África. Ainda no Fórum Mundial, estas três entidades construíram um texto do que queremos como sistema de saúde no mundo. Trata-se de uma plataforma de princípios fundamentais que poderiam dirigir o sistema de saúde, mas o intuito não é padronizar um sistema mundialmente, e sim iniciar uma discussão.

INOVE: Esta plataforma se aproxima do SUS?
Julien Terrié: Sim, no caso da participação popular e financiamento solidário.

INOVE: De quem vem o auxilio para as lutas para a melhoria do sistema de saúde? Os sindicatos contribuem?
Julien Terrié: Alguns sindicatos não auxiliam, eu faço parte de um, mas dentro desta instituição eu fico na oposição, tentando estimular que ele promova mais lutas.
Quem de fato auxilia são os partidos políticos de esquerda radical, associações de doentes e suas famílias, associações contra grandes epidemias por exemplo HIV, alguns sindicatos mais radicais e apoios internacionais.

INOVE: Como você acha que as lutas e conquistas do Brasil podem ajudar a França e vice versa?
Julien Terrié: Eu costumo dizer que falo muito do Brasil na França, dizendo, que esse país te um processo de participação popular dentro do SUS. Eu sei que está limitado, que o governo faz o que quer depois, mas é bom dizer que existe, porque dá uma legitimidade as reivindicações. Além disso, se eu falo que aqui no Brasil tenho 35% do PIB para a previdência Social, isso também nos traz perspectivas.
Entretanto, o processo de privatização da saúde é quase o mesmo entre Brasil e França, isso dá uma consciência de que temos que enfrentar um sistema global para combater o problema.

Fotos: Jacqueline Silva no III Seminário da Frente Contra Privatização da Saúde em Alagoas

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