Este ano, “vadias” defenderam o direito de escolha com o tema “Lugar de mulher é onde ela quiser”
“Nem todas as princesas têm que usar rosa e sonhar com príncipe encantado. Você pode escolher”. “A luta é contra o machismo, não contra os machos”. “Nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito”. Essas eram as palavras de ordem da 2ª Marcha das Vadias, protesto pacífico que reuniu centenas de mulheres ontem de manhã, em Belém. A marcha saiu da escadinha da Estação das Docas por volta das 10h30, subiu a avenida Presidente Vargas e terminou na praça da República. O tema desta edição – “Lugar de mulher é onde ela quiser” – destacou a importância da liberdade de escolha das mulheres.
Vários coletivos e movimentos sociais participaram da caminhada feminista. Para chamar a atenção para a causa, várias optaram por usar figurinos mais ousados, como roupas curtas e peças íntimas, fazendo referência ao estereótipo das vadias. “Essa manifestação começou no Canadá, quando um policial afirmou que, para evitar estupros, as mulheres deveriam deixar de se vestir como vadias. Isso deu origem a um protesto mundial em defesa da mulher, que já se espalhou por vários lugares”, explica Lorena Abraão, uma das coordenadoras do evento.
Segundo Lorena, o movimento tem várias frentes de reinvindicação. “Queremos o fim das diversas formas de violência contra a mulher e da mercantilização do corpo feminino. Além disso, lutamos pela igualdade no mercado”, afirma a militante. As “vadias” defenderam a legalização do aborto. “Somos a favor da legalização do aborto pois a mulher tem direito a decidir sobre o seu corpo. Não fomentamos o aborto, mas queremos lutar para que o Estado garanta as condições”.
A estudante Heliane Abreu, uma das idealizadoras do evento em Belém, explica que esta nova edição da marcha atende a um chamado do movimento nacional. Neste mesmo final de semana, outros Estados brasileiros fizeram a mobilização. “Mesmo assim, pretendemos realizar a marcha novamente em agosto, mês em que ocorreu a primeira edição, no ano passado’’, conta. Para Heliane, o momento é de refletir e lutar por direitos iguais. “Dizem que lugar de mulher é no fogão, mas nós queremos mostrar para a sociedade que o lugar da mulher é onde ela quiser”, defende.
A Marcha das Vadias já tem como marca registrada a irreverência das participantes. A “comissão de frente” da marcha, por exemplo, reprentava mulheres que marcaram suas gerações. Marilyn Monroe, Dercy Gonçalves e Maria Madalena eram algumas das personagens femininas representadas na comissão. “Estamos incorporando mulheres que influenciaram gerações e que também já foram taxadas de vadias, como é caso da minha personagem, que era tida como prostituta”, disse a estudante Paula Lira, 23 anos, caracterizada de Maria Madalena.
A ex-senadora Marinor Brito (PSOL) foi à marcha e defendeu a liberdade de escolha feminina. “Temos que lutar pelos nossos direitos. Nós temos o direito de escolher o nosso lugar, e já escolhemos. O nosso lugar é na história, é na luta”. Embora em menor número, homens também participaram. Foi o caso do fisioterapeuta Rodolfo Nascimento, de 27 anos. “Eu vim prestigiar a marcha porque acredito que o mundo tem que aprender a valorizar as mulheres. É uma manifestação simples, mas que pode ajudar a mudar essa realidade”, avalia.
Lorena Penha, 22 anos, estudante de serviço social da Universidade Federal do Pará, fez questão de marcar presença na caminhada de ontem. “A realização da marcha é um grande avanço na luta feminista, porque aqui se reúnem mulheres de todas as idades, negras, brancas, pobres, ricas, lésbicas. Todas com o mesmo objetivo, que é lutar pelo respeito e pela igualdade de gêneros”, acredita a estudante. Maria José da Silva, 52 anos, tem três filhas e duas netas e diz que quer deixar um mundo mais justo para as mulheres de sua família. “Eu oriento muito as minhas filhas para que não deixem de se impor em qualquer situação”, diz.
Fonte: Jornal Amazônia