“Novembro 2.0: Narrativas de resistência dos novos quilombos”
As consequências do racismo no Brasil estão nas telas da tv, do celular, nos papéis dos jornais, nas ondas do rádio. Raramente esse processo surge com análises críticas do processo histórico oriundo do período da escravidão, mas, sim, camuflado por “problemas da vida privada”.
Por isso, entender a existência do racismo estrutural na sociedade é crucial. Discutir as suas consequências no país – genocídio da população jovem, negra e periférica; a desigualdade social, racial e econômica entre negros e não negros; ausência de representatividade – nos leva ao patamar de articular concretamente políticas públicas e ações que busquem promover iniciativas pela reparação histórica à população negra.
Ao discutir o racismo estrutural em algumas esferas da sociedade, filhos e filhas da diáspora africana, resgatam, inovam e ressignificam sua identidade negra. Identidade esta que não significa simplesmente “tornar-se militante”, “criar uma guerrilha”, “formar uma geração tombamento”. Significa se encontrar enquanto sujeito histórico, que promove reflexões sobre as possibilidades de transformação e de reconstrução social.
Por sua vez, enquanto não-negros, discutir o racismo estrutural é entender que só uma discussão política com recorte de raça, classe e gênero é o caminho pelo qual se conquista uma democracia, de fato.
Embora o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, impulsione ainda mais essas discussões, é importante reiterar a existência negra durante todo o ano: um jovem negro morre a cada 23 minutos no país!
Ou seja, é preciso pensar sobre os 365 dias de resistência. Na música, no teatro, na poesia, na internet, na religião, no jornalismo, em tantos outros espaços e frentes de ação. Resistência esta que é negligenciada e ofuscada por conteúdos sensacionalistas das grandes empresas de comunicação.
É indo na contramão desse senso comum que o especial do Brasil de Fato “Novembro 2.0: Narrativas de resistência dos novos quilombos” é lançado nesta semana.
Refletimos socialmente, e editorialmente, com a poesia da escritora afro-indígena da periferia da Zona Leste de São Paulo, Cláudia Canto; com as palavras de Pai Sidnei, mostrando que “o candomblé é um espaço de devolução onde podemos voltar a ser pretos”. Palavras que são acompanhadas pelo olhar fotográfico de Roger Cipó.
Discutimos sobre as iniciativas contra o encarceramento em massa no país com a socioeducadora Miriam Duarte; sobre a formação de territórios negros com a atriz Luzia Rosa; das iniciativas para transformar a desigualdade do sistema educacional com a advogada Rosângela Martins.
Lembramos, com o professor Amailton Magno, que há uma história de resistência não contada nos livros formulados pela elite brasileira. Uma vez que, mesmo sendo o país onde a escravidão durou mais tempo nas Américas, algo que nunca é contado é que “a resistência negra impediu a estabilidade do regime escravocrata”.
E, confirmamos, com Milton Barbosa, o Miltão, ao resgatar em suas lembranças da militância, a formação do Movimento Negro Unificado (MNU), na década de 1970, que “os passos [da resistência] vêm de longe”, e continuam efervescentes com novas articulações, que se inserem em uma conjuntura política nada favorável.
“Novembro 2.0” trata das novas formas de se conectar, das narrativas de ontem e de hoje, dos modelos contemporâneos de partilhas de uns com os outros, entre nós. Esse é um pouco do espírito trazido pelo rapper Rincon Sapiência: “Crespos tão se armando. Faço questão de botar no meu texto, que pretas e pretos estão se amando. Os preto é chave, abram os portões!”.
Fonte: Brasil de Fato