Familiares e amigos das vítimas de execuções em Belém realizam manifestação e pedem CPI das Milícias

protesto

“Nós queremos uma resposta do governo para o que aconteceu. Meu filho estudava, trabalhava, tinha uma vida pela frente e isso foi roubado dele”, afirma Priscila Chaves, mãe de Eduardo Galucio,16 anos, uma das dez pessoas assassinadas na semana passada em Belém. Os pais de Eduardo participaram na manhã desta terça-feira (11), juntamente com dezenas de familiares e amigos de pessoas vítimas da violência, de um protesto contra a chacina e pediram a instalação de uma “CPI das milícias”.

Nove pessoas foram assassinadas na noite da última terça-feira (4) em seis bairros de Belém. Um homem que havia ficado ferido morreu no dia seguinte no hospital. Os crimes ocorreram após o cabo da Polícia Militar Antônio Marcos da Silva Figueiredo, 43, ser morto a tiros perto da rua onde morava. Os casos estão sendo investigados pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil.

Também participaram da passeata os familiares de Márcio dos Santos Rodrigues, de 22 anos. “Meu filho tinha saído para comer um lanche perto de casa no Tapanã. Ele estava vindo de um aniversário com dois amigos em uma moto quando passaram pelas motos com os caras encapuzados. Ele recebeu três tiros porque era o último na garupa, conta Suzana Amaral, mãe do jovem, conhecido pelos amigos como um garoto alegre e sempre sorridente.

A passeata  seguiu até a Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) e contou com a participação do SINTPREVS/PA, diversas entidades sindicais e movimentos sociais. No local, uma comissão de manifestantes foi recebida por parlamentares. 

O governo informou que os casos estão sendo investigados pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil para verificar a relação entre eles. Pelo menos seis mortes teriam características de execução. (Fonte: G1 Pará)

A voz da comunidade – Uma blogueira conta como foi a madrugada de 4 para 5 de novembro de 2014 em Belém

Madrugada de 4 para 5 de novembro de 2014. Por volta de 21h no bairro da Terra Firme (TF) em Belém, ouvem-se fogos de artifício. Homenagem religiosa? Não. Festa de aparelhagem? Não. Partida decisiva entre Remo e Paysandu? Também não. O foguetório era a comemoração da morte de um cabo da polícia militar do Pará, miliciano, de licença médica e investigado pela corporação por associação “ao crime organizado” da capital paraense. Resultado: “vingança” da polícia militar em cima da favela. E o aviso foi bem nítido: “vamos fazer limpeza!”

Por Thiane Neves Barros no DCM

Eu fui acordada pela minha mãe, em algum momento da madrugada, com a seguinte abordagem: “está tendo tiroteio pela cidade, tome cuidado, não saia de casa”. Eu não tenho televisão nem internet em casa, então voltei a dormir, tomada pela banalização que dei à expressão “tiroteio”. Ao amanhecer fui conferir as mensagens no aplicativo de mensagens para celular e li os depoimentos estarrecedores de meus colegas de trabalho, indignados, tomados pela dor e muito confusos com tantas versões.

Sem saber ao certo o que estava acontecendo, tomei um táxi e segui para a labuta. Ao chegar, fui abordada da portaria, aos corredores, aos colegas depondo: chacina em Belém! Acessei meu e-mail pessoal e uma amiga da Alemanha clamava por notícias: “preta, dá notícias, soubemos de uma chacina em Belém, é verdade…?”. Sim, infelizmente era.

Começamos a caça por informações, por fontes confiáveis, por alguma verdade. Passei a mão no telefone e liguei pra minha melhor fonte, uma amiga que mora na quebrada da TF: “Lu, vocês estão bem? A comunidade está bem? As crianças estão bem?”. Ao que ela responde: “Estamos vivos, sim. Mas não dormimos a noite toda. Foi horrível. Ficamos no meio do fogo cruzado. Pedi aos meus filhos que não voltassem pra casa, que dormissem por onde estivessem. Mataram um rapaz aqui na entrada da rua, ele não tava fazendo nada. Montes de homens encapuzados, carros sem placas, muita viatura também e moto. A gente sabe que eram os milicianos se vingando”.

Reativei minha conta em uma das mídias sociais e também verifiquei outras informações: TF, Guamá, Jurunas, Bengui, Sideral, Marco … 20, 30, 100 mortos… Toque de recolher, vingança, continuação da chacina, bandido bom é bandido morto, gente inocente, bala perdida … Aguardem informações oficiais, informações oficiais, informações oficiais…. E as informações oficiais vinham das corporações militares, apenas. Nenhuma fala coletiva das favelas atingidas, nenhuma voz do lado de quem estava no centro desse filme de terror.

O repórter aparece no telejornal do meio-dia vestindo um colete à prova de balas, ao fundo uma viatura da polícia militar e lança: “por aqui está tudo tranquilo”. O telejornal segue obedecendo os discursos da ordem de quem está no poder: “vamos reforçar a segurança nas ruas, aumentar o número de viaturas em ronda”. E nada da favela falar. A única pessoa entrevistada, timidamente afirma: “todo mundo gostava do pm, ele vai fazer falta”. Controle de discursos?

Em um segundo momento liguei para minha família que mora no bairro do Guamá para conferir as informações de que estavam ateando fogo nos ônibus: “não é verdade, mas tem muito pm nas vielas, aqui em casa estamos de portas e janelas fechadas, já viste né, todo mundo bebe conosco, quem rouba, quem mata e os de farda, não temos como prestar contas disso, crescemos juntos”. E crescemos mesmo. Eu cursei universidade, o mano da porta esquerda bate carteira e o outro mano lá da ponte virou pastor. Favela sitiada, quarto de despejo. Imprensa lucrando audiencia. Juventude com o sangue exposto na calçada. Carne barata. Estado de opressão.

Novembro em Belém inicia homenageando a gente preta da cidade. Etnia predominante entre os mortos, especialmente da TF. Mas o mesmo estado está com a agenda cheia de eventos pelo dia da consciência negra. Consciência de folhinha: calendário promocional pra fazer anúncio de jornal e imprimir cartilha educativa.

Belém surgiu nos TTs do Brasil de uma mídia social. Figurou entre o quinto e o terceiro lugar com a hashtag #ChacinaemBelem. O Estado contabilizou 10 mortos, incluindo o pm. A favela ainda está contabilizando os corpos, além de contabilizar décadas de baculejo, interdição e rejeição. A polícia policia a favela. E quem policia a polícia?

Na noite do dia 5 havia silêncio na cidade. Silêncio e medo nas favelas. Terreiros fechados. Anunciei que visitaria a comunidade e de lá fui orientada: “não vem hoje, a pm está aqui”. E já vimos como a pm socorre mulher preta, né? Não porta-malas, hoje não. Hoje já choramos bastante.

Escrevo na madrugada do dia 5 pro dia 6. Me resta pedir ao meu pai Oxóssi que nos acolha em sua paciência. (Clique aqui e leia a matéria completa)

No Dia 07, o ouvidor nacional de Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Bruno Renato Teixeira, esteve em Belém

O ouvidor nacional de Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Bruno Renato Teixeira, esteve em Belém e fez o alerta por ocasião de uma reunião com a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA, Luanna Tomaz, e representantes de diversas entidades da sociedade civil, na sede da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).

Acompanhado de Carlos Alberto Silva Júnior, ouvidor nacional da Igualdade Racial, da Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade (Sepir), Bruno Renato Teixeira salientou aos presentes no encontro que a finalidade do deslocamento deles para Belém “é estabelecer diálogo permanente, forte e transparente com a sociedade civil e as autoridades de segurança pública do Pará”.

Na avaliação do ouvidor, o cenário de barbárie vivenciado na última terça-feira reflete que o Estado está encurralado “tanto que o crime organizado passa a compor a própria estrutura do Estado. Isso é inadmissível do ponto de vista dos direitos humanos, por isso nós precisamos estar aqui e cobrar medidas enérgicas por parte do Governo do Estado na responsabilização dos autores”.

De acordo com Bruno, a perspectiva do Governo Federal é trazer cooperação, mas, acima de tudo, solidariedade ao povo paraense e à sociedade belenense diante do fato ocorrido. “Nós não podemos tratar essa situação como um fato isolado, como vem sendo dito por algumas autoridades. Nós temos elementos para dizer que não se trata de um fato isolado. A partir da constatação do que houve aqui na madrugada de terça, percebemos que há um processo sistêmico que vem sendo instituído nas periferias de Belém”.

Investigações

O ouvidor nacional ainda informou que as autoridades que compõem o Sistema de Segurança Pública do Pará comunicaram que a Polícia Federal irá colaborar nas investigações. Ao se pronunciar, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA, Luanna Tomaz, colocou a instituição à disposição para compor a comissão da sociedade civil que acompanhará as investigações e adiantou que a seccional paraense apoiará uma eminente mobilização para pedir instauração da “CPI das Milícias” na Assembleia Legislativa.

Membros

Também participaram da reunião o coordenador executivo do Plano Juventude Viva, da Secretaria Geral da Presidência da República, Efrain Batista de Souza; e o técnico do Plano Juventude Viva, da Sepir, Paulo Victor Silva Pacheco. (Fonte: OAB/PA)

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