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O fracasso de um sistema de saúde: o que fazer?

Por Tadeu Sampaio (médico de Belém/PA)

Desperdiçar o dinheiro público É UM CRIME INANFIANSÁVEL, e com nosso sistema de saúde, se jogam fora milhões de reais em obras para postos de saúde, hospitais, materiais hospitalares, medicamentos, compram hospitais particulares superfaturados, que o mercado não pagaria, reformam estruturas de saúde, mas não valorizam o bem mais precioso que é o ser humano e suas necessidades sociais básicas.

As contribuições voluntárias da comunidade são menosprezadas, abandonadas no meio do nada, desperdício para quem depende do SUS. Se a precariedade da saúde pública brasileira precisasse de um monumento, teríamos no Brasil várias amostras para isso, o hospital reúne no que de fato é ou que prometeram ser e representam muitos dos descaminhos da ineficiência, a obra inútil é uma sucessão de equívocos e se presta à avaliação dos desatinos cometidos pelo setor público, não só na área da saúde, como em todas as esferas.

Por envolver Prefeitura e Governos Estadual e Federal é o total fracasso da Gestão Pública na saúde. Me refiro principalmente ao Estado do Pará, já que não tenho como avaliar outros estados, pois estou há 33 anos formado e continuo lutando com todas as minhas forças, não aceitando este tipo de assistência à saúde e com uma sociedade totalmente acéfala aos problemas sociais, que não se mobilizam em prol de direitos humanos básicos. O Município culpa o Estado, que acusa o Município, e a União se esquiva, como se não tivesse nada a ver com o esbanjamento de recursos, que já são escassos, incapazes de evitar que a saúde pública se perpetue como a maior aflição brasileira.

Neste mês de maio, tive a infeliz oportunidade de presenciar o que é a falta de uma gestão compromissada em fazer o bem. Minha secretária do lar teve a notícia de que seu irmão ficou doente, teve uma forte crise de cefaléia (dor de cabeça) abrupta, intensa, desmaiou e o levaram para o hospital de sua cidade Capanema (fica distante 200 km de Belém-Pará). Avaliado pelo clínico de plantão que diagnosticou um provável quadro de AVC-Acidente Vascular Cerebral. Acionou o neurocirurgião que veio no dia seguinte para uma avaliação, confirmando através de exames de tomografia craniana, ser um aneurisma roto e que precisaria fazer uma arteriografia cerebral para saber qual era o tronco vascular roto.

Solicitou sua transferência para Belém. Ficou alojado no Hospital Metropolitano sem fazer nenhuma arteriografia por 3 dias, e em seguida foi transferido para o Hospital da Ordem Terceira para ser realizada a arteriografia cerebral. O neurocirurgião foi acionado e comunicou aos familiares, após sua avaliação, que o aparelho do Hospital, estava com defeito há mais de 4 meses, e somente no Hospital Ophir Loyola, poderia ser agendado sua realização, mediante autorização pela SESMA. Depois de 4 dias o exame de arteriografia cerebral é marcado para o dia 19 de junho quase um mês após o ocorrido.

Neste período, outros 4 paciente morreram no hospital, com mesmo quadro clínico do irmão de minha secretária. A família ficou assustada. Foi aí que entrei no circuito, quando minha secretária contou-me o que estava acontecendo. Através de alguns colegas médicos, pedi ajuda para este grave problema, pois sem o exame de arteriografia, o cirurgião não podia agir, infelizmente, conseguimos antecipar o exame somente para o dia 05 de junho, quase quinze dias antes. Foi o máximo que conseguimos. Mas o caso necessitava de uma urgente e imediata solução. Depois de muitas investidas, fiquei sabendo, que no Hospital da Beneficência Portuguesa, fazia este exame pelo SUS, mais o paciente tinha que estar internado. Então começou a via sacra, em primeiro lugar tentamos transferir o paciente, colocando na Central de Leito do SUS.

Isto foi dia 21 de maio. Mesmo sabendo do quadro grave, já que vai um laudo do neurologista, a Central de Leito da SESMA não colocou o paciente como prioridade. Após inúmeras tentativas, falando com os plantonistas, consegui sua transferência para a Beneficência Portuguesa no dia 26 de maio, graças a um anjo bom da recepção daquele Hospital, de nome Joana, que fez de tudo para conseguir um leito. A transferência tinha que ser feita numa ambulância, ligaram para o SAMU e deram como resposta que eles não tinham ambulância disponível no momento, pois umas estavam sendo consertadas e outras estavam em ocorrências e deram como conselho aos familiares, alugar uma ambulância particular.

Assumi o pagamento de R$ 437,80 pelo transporte, e assim foi realizado. Durante a transferência e o internamento falei por telefone com o médico neurocirurgião de sobreaviso e ele disse que assim que o paciente estivesse internado iria avaliar, e assim o fez, confirmou a necessidade da realização urgente de uma arteriografia. Comunicou para os familiares, que pelo SUS somente poderia agendar para a terça-feira, e para fazer naquele dia, somente particular. Foi cobrado o valor de R$- 4.000,00. Os familiares fizeram um verdadeiro mutirão com os amigos e conseguiram este valor que foi pago no mesmo dia 26/05/12.

Realizado o exame, foi detectado cinco artérias rompidas, não havendo condições para um tratamento cirúrgico, pela evolução desfavorável do caso, e que a sobrevivência do paciente, até aquele momento foi um milagre. Se sobrevivesse iria ter inúmeras seqüelas. No Domingo, ele faleceu. Como vocês podem perceber, existe uma total falta de responsabilidade pela vida humana, desde de Capanema computamos uma somatória de erros. Não interessa acusar de quem é a culpa. A culpa é de um sistema falido, sem nenhum comprometimento com a vida. Um caso de polícia. Um crime! Quantas pessoas por esse Brasil à fora, morrem diariamente por falta de atendimento médico correto e imediato. Centenas de cidadãos acometidas de Urgências e não são atendidas a tempo e morrem sem assistência médica.

Não posso me calar diante de um fato lastimável deste, onde um jovem com tantos sonhos pela frente, se ver nesta situação caótica, com o Poder Público ausente para ajudar na sua Doença. A Central de Leito é que seleciona quem deve e quem não deve morrer. E o maior absurdo de tudo, a avaliação da gravidade de cada caso não é feita por médicos, e sim por um técnico de enfermagem sem a capacidade técnica de avaliar cada caso, mesmo mediante um laudo médico. Existe um chefe na direção, porém só durante os dias da semana se consegue falar com o mesmo. Não temos acesso a seu celular para tentar sensibilizar sobre a urgência. Deve ser tantos pedidos que já virou rotina, este morre, aquele não…. Onde está a bandeira dos Direitos Humanos? Cadê a sociedade para brigar pelos direitos de seus filhos de terem uma assistência médica no mínimo digna?

Meu professor de Mastologia, dizia que precisamos avançar mais no estudo das mamas, pois havia muitas perguntas para poucas respostas. Contava que Thomas Edson descobriu um filamento de lâmpada elétrica eficiente, só depois de mais de mil tentativas. Perguntado sobre como persistira após mais de mil fracassos, ele respondeu que não havia fracassado, mas sim descoberto mais de mil materiais que não serviam. Falta para os nossos gestores, disciplina, interesse em fazer o melhor num conjunto de ações voltadas a servir as pessoas para o bem comum, incentivar novos caminhos mais eficientes, ter condições e autonomia para resolver todos os problemas dos menores aos maiores, sem interferência política, terem independência dos recursos da saúde , administração EFICIENTE, com competência, com resultados.

A medicina mudou a relação médico-paciente. Medicina da produtividade: quanto mais opero mais ganho, e a qualidade profissional neste contesto não é levado em consideração? Pago o meu plano de saúde para ter direito a assistência médica e quem me garante que o caminho que estou sendo levado é o melhor para mim. Temos inúmeros aparelhos de diagnósticos, porém onde está a qualidade dos laudos ? Pacientes sofrem radiação pelos inúmeros exames solicitados e quantos vão evoluir para uma mutação gênica? Trinta Tomografias realizadas numa mesma pessoa durante a vida é a mesma quantidade de radiação sofrida no Japão na cidade Fukushima Daiich. Sou um médico que tenta ajudar as pessoas com as armas que aprendi, com as técnicas com as quais fui treinado é o que procuro fazer no meu dia a dia, considero que somos servidores, pessoas que servem e ajudam , essa é missão da prática médica, mais não gosto e nem quero para mim honrarias e glórias exijo respeito , quem merece a glória e todos os elogios é o paciente.

O sistema está errado. A pergunta que o povo faz é: Por que permitimos mortes evitáveis no Brasil? Por que morrem pessoas por falta de uma administração interessada em salvar vidas? Vidas que morrem em corredor de hospital e dentro de ambulância? Parte dela está sendo respondida: Há falha de gestão. A saúde foi definida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença” (Organização Mundial da Saúde – OMS)., Não é surpreendente, portanto, que a boa saúde esteja no topo da lista de aspirações das pessoas em qualquer lugar. É apropriado que a saúde seja reconhecida como um direito humano em diversas convenções e tratados globais, inclusive na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nas constituições e políticas nacionais. Para Saint-Simon, havia quatro condições para a evolução da sociedade: “tolerância religiosa, ausência de privilégios sociais, noção de que poder econômico e político não podem se confundir e aceitação universal de uma filosofia baseada no pacifismo, na indústria e na economia frugal. Esta evolução da sociedade precisa de treinamento e práticas que devem ser feitas pelos mais educados, os homens de bem e pessoas influentes com seus exemplos. Até recentemente, as melhorias na saúde, eram vistas principalmente como uma conseqüência do desenvolvimento – um efeito benéfico proveniente, para o indivíduo, da diminuição da pobreza e do aumento das oportunidades por mais educação e melhores condições de vida. Mais recentemente, desde 1993, tornou-se amplamente aceitável que uma saúde melhor é um elemento necessário ao desenvolvimento e que os investimentos na saúde tornaram-se essenciais para as políticas de crescimento econômico que buscam melhorar as condições de vida das pessoas mais pobres (WORLD BANK, 1993; WORLD HEALTH ORGANIZATION,1996, 2001).

O componente indispensável de qualquer estratégia nacional que busque dar suporte ao alívio da pobreza e à redução das desigualdades. Nesses conjuntos de ações existe um aspecto crucial da saúde: seus determinantes não estão apenas no setor saúde, e o alcance da boa saúde requer a atenção para um grande número de fatores que vão muito além da criação de conhecimentos, tecnologias e serviços que visam tratar doenças. Entre outros, os fatores que determinam níveis elevados de educação e acesso a emprego, nutrição, transporte, água limpa e saneamento decentes e seguros, e proteção legal dos direitos são também todos de grande importância como determinantes da saúde, como são os macro-fatores, tais como boa gestão, sistemas democráticos e eqüidade e crescimento econômico. Precisamos proteger e promover a saúde e reduzir a doença, retirar o espaço entre o saber e o fazer.

Martin Luther King líder de movimentos que buscavam o respeito aos direitos dos negros, e o fim da discriminação racial nos EUA. Luther King liderou protestos pacíficos e conseguiu mudar a situação dos negros em seu país dizia estas palavras em seus discursos: “Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver”.

Mais vale não dizer nada, que nada dizer. Ao fazer o bem, estamos fazendo por amor, é como uma gota de mercúrio, é preciso manter a mão aberta para retê-lo. Se a fecharmos, ele escapa. O poder se manifesta mais facilmente no destruir do que no criar. Quando somos vencidos pelo sofrimento ele nos mata, quando o assumimos ele nos transforma num ser maior. Não temos em nossas mãos a solução para os problemas do mundo; mas, diante os problemas do mundo temos nossas mãos. São poucas as pessoas que, ao se deitarem à noite, ousariam dirigir-se assim a Deus: “Senhor, trata-me amanhã como tratei os outros hoje”.

Precisamos gerar um ciclo virtuoso em favor da saúde brasileira, é preciso aprender com os erros e extrair deles lições importantes no campo da gestão da Saúde. Conto com o envolvimento de todos, para fazermos a sensibilização a nível do governo federal, estadual e municipal pelo nosso Brasil.

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